Melhorar sua alimentação só depende de você?
Vamos supor que você tenha decidido consumir mais alimentos naturais. Aí você vai ao supermercado e se depara com uma "fruta de bolso", compra por acreditar ser uma forma mais prática de consumir frutas. O que você não sabe é que esse produto nada mais é que um grande processamento industrial que inclui 5 aditivos químicos na composição.
Então você decide cozinhar mais em casa e resolve comprar o tempero que tem "sabor caseiro" sem ter a clareza de que dentre os ingredientes do tempero há, no mínimo, 6 aditivos químicos que de caseiros não tem nada.
Ou ainda você opta pelo tempero com "25% menos sódio" já que ouviu falar que esses produtos têm muito sal, mas não sabe que mesmo com essa redução ele ainda pode ser classificado com "excesso de sódio" por possuir em cada tablete mais da metade da nossa necessidade de sódio diária.
Aí você é aconselhado a comprar vegetais orgânicos, nas feiras, de produtores locais, devido ao excesso de pesticidas usados na produção de larga escala, mas percebe que não consegue, pois os preços dessas frutas e verduras são bem maiores.
Ou talvez você decida parar de comprar para o seu filho um tipo de alimento que você já sabe que é ultraprocessado, mas, durante as compras, de repente percebe que ele alcançou e pegou sozinho o produto que estava em uma prateleira baixa e bem chamativo com o seu personagem de desenho favorito na embalagem e oferecendo um brinquedo junto com o alimento.
Bom, diante desses e de vários outros exemplos que eu poderia citar envolvendo principalmente a falta de uma rotulagem de alimentos com informações claras, a presença de uma publicidade de alimentos abusiva (em especial as voltadas para o público infantil), a falta de incentivo fiscal para a produção de orgânicos e a baixa tributação sobre alguns alimentos industrializados, eu te pergunto: será que melhorar a alimentação é só uma questão de vontade individual?
Nossas escolhas alimentares são influenciadas pelo acesso (facilidade e rapidez), preço (baixo), publicidade (mídia), aspectos visuais persuasivos (frases e imagens da embalagem que enganam sobre características do produto), palatabilidade (excesso de açúcar, sal, gordura), enfim... Várias características que a indústria de alimentos domina muito bem, visando apenas mais vendas e lucro.
Não sou contra a indústria e reconheço o papel fundamental que alguns processamentos industriais exercem no nosso atual contexto de vida. Mas, não são a esses tipos de processamento que me refiro aqui, e sim à grande interferência negativa que a indústria de alimentos tem causado no nosso sistema alimentar e que se associa com o aumento de várias doenças crônicas. Também não estou dizendo que é preciso abolir alguns alimentos. Porém, quando pensamos na saúde de uma população, é preciso seguir orientações gerais. E, a partir delas, algumas alterações podem ser feitas, claro, com orientação profissional individualizada, planejada dentro da realidade de cada um.
O fato é que hoje o consumo excessivo de alimentos ultraprocessados interfere em sérias questões de saúde pública aqui no Brasil e mudar esse cenário não está bem ao alcance de um único indivíduo.
Ter acesso a uma alimentação adequada e saudável é direito de todo ser humano. E se o ambiente e as condições sociais e econômicas em que vivemos nos dificulta esse acesso de diversas formas precisamos de ações coletivas que possam mudar esse cenário
Por isso, os próximos dois textos serão abordando duas grandes ações pela nossa segurança alimentar com as quais eu, você, nossa família, vizinhos, colegas de trabalho, todos nós podemos nos envolver e contribuir.
Por agora, queria muito saber o que você pensa sobre isso. Essas questões políticas envolvendo nossa alimentação já tinham passado pela sua cabeça? Quais outras dificuldades você conhece ou vivencia na alimentação e sabe que para mudá-las não depende apenas da vontade individual, mas de intervenções amplas, em nível populacional?
Vou adorar receber seu retorno e em breve a gente continua o papo!
Um abraço com carinho e até mais!
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