Mindfulness e a alimentação
É função da nossa mente pensar e isso acontece constantemente. Porém, na nossa cultura atual a tendência é que esses pensamentos estejam na maior parte do tempo revivendo o passado ou planejando o futuro, gerando emoções boas ou ruins com isso e deixando de viver o único momento que existe, que é o aqui e o agora. Mindfulness é treinar esse estado mental de presença por meio de práticas “formais” e “informais”. Significa trazer o foco da atenção para o momento presente, para o que se está fazendo, sentindo, pensando, comendo, etc, com abertura para observar tudo isso de maneira gentil, sem julgamento, às vezes como um observador externo de si mesmo e como se fosse a primeira vez. Isso nos permite tomar consciência dos nossos padrões de pensamentos, emoções, das reações físicas e dos comportamentos padronizados que nos fazem agir no "piloto automático" diante de muitas situações. Isso é lidar melhor com a realidade como ela de fato é. Esse assunto já tem sido estudado e aplicado na medicina convencional internacionalmente há mais de 30 anos, inicialmente como uma abordagem no tratamento da depressão e depois sendo ampliada para outras condições como dor crônica, transtorno de ansiedade, redução de estresse, dependência química, distúrbios psiquiátricos, outros acometimentos psicológicos e, desde a década de 90, na melhora de comportamentos alimentares por meio do Programa de Treinamento de Consciência Alimentar Baseado em Mindfulness (MB-EAT).
Mas, como isso influencia na alimentação? Podemos começar pensando que comer, muito comumente, se torna algo corriqueiro, uma atividade automática (ou desatenta), secundária a outras tarefas da vida. Então, com frequência se passa a comer simplesmente porque é hora das refeições ou porque se teve acesso a alimentos (visão, cheiro...) e se consome uma quantidade induzida pelo tamanho das porções, dos utensílios ou pelo quanto há disponível, sem considerar qualquer consciência de fome, saciedade, apetite, satisfação... A atenção plena aplicada à alimentação (ou Mindful Eating, comer consciente, comer com atenção plena) tem como princípios: estar consciente do momento presente antes, durante e após as refeições, prestando muita atenção ao efeito dos alimentos nos sentidos e observando as sensações físicas e emocionais em resposta a esse consumo. Vários estudos têm investigado e encontrado evidências razoáveis de que essa prática pode ajudar a reduzir os episódios de compulsão alimentar, o consumo por excitação emocional ou por gatilhos ambientais e implicar em mudanças positivas nas escolhas dos alimentos e das quantidades.
E como isso acontece? Fisiologicamente isso foi explicado, com base em 3 possíveis mecanismos, por estudos que realizaram exames de ressonância magnética em grupos que tiveram alguma intervenção baseada em Mindfulness. Alguns desses trabalhos mostraram que a atenção plena está associada a alterações em estruturas cerebrais, gerando, menor excitação emocional, maior interocepção (percepção relacionada ao estado interno do próprio corpo, como batimentos cardíacos, temperatura corporal, fome e saciedade), desenvolvimento de áreas responsáveis pela tomada de decisão. A prática da atenção plena também pode aumentar a consciência sobre as reações aos alimentos atraentes e o reconhecimento disso como estados mentais impermanentes, que irão passar, em vez de experiências reais, o que reduz a probabilidade de um consumo excessivo por gatilhos ambientais.
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